A saudade, quando criança, morava bem longe. E mesmo assim, não tinha jeito de ficar sozinha. Era ela quem recebia as cartas bonitas de amor e de amizade. Era ela quem recebia os sentimentos ternos do outro lado do mundo. Ta aí. A saudade foi uma criança engenhosa. Daquelas que testavam mil experimentos para inventar alguma coisa. No caso dela, essa tal coisa era a mania de tentar diminuir a distância sempre com uma invenção diferente. Dizem por aí, que primeiro veio o pombo-correio. Porque na época da guerra, a saudade ficou tão longe e escondida, que o tempo-espaço ficou ainda menor que um coração apertado.E falando em asas, depois ela inventou o avião. Ufa. Assim era mais rápido. E que mania de asas tinha essa criança. E como toda explicação lógica dessa idade ela dizia que é porque quem sente saudade quer mesmo voar pra bem longe. Tudo bem, dessa vez passa. Todo mundo mesmo queria estar bem perto da saudade. Menos a despedida. Pois como toda historinha de amor e aventura, essa aqui não poderia ser diferente. Também tem uma vilã: enquanto a despedida vai embora, é a saudade que fica.
De tanto ser obrigada a casar com o tempo, a saudade começou a colecionar relógios na sua casinha. Eram ponteiros dos mais variados tipos. E que lembrança ruim foi esse casamento com o tempo. Nem o padre abençoou. O sino da igreja não tocou e nenhum convidado apareceu: todos perderam a hora, afinal, todos os relógios do mundo estavam na casa da saudade. Passados alguns meses, o tal do padre mandou uma carta justificando a sua falta: “não posso dizer até a morte os separe para um casamento que nasceu de uma separação.”É o padre estava certo. Não era época de casamento por conveniência. Mas tudo bem.
Com um pouco de sorte, a saudade viveria bem pouco. E que vida mais feliz, ela teve. Só morreu depois que duas pessoas de abraçaram. Será que morreu mesmo? Dizem por aí que ela se transformou em uma tal de lembrança. Outra casinha bem pequena, no meio do nada.Provavelmente, no coração de alguém.
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