Clarice Maria Reis era romântica.
Bem romântica.
E como todo menina que acordava vendo o passarinho azul mesmo quando dorme pouco , ela sonhava com o momento máximo que descobriria o amor:
Sua primeira vez.
Ainda na flor da sua idade de menina-flor, acreditava ser esse o momento mais romântico do mundo.
Mais ainda do que o casamento.
Nem precisava esperar por ele para descobrir o amor.
Clarice casaria de rosa sem problemas e sem falatório de cidade pequena.
Rosa era sua cor preferida e ponto final.
Então, estava chegando o momento.
Não a hora de subir ao altar. Mas o momento de subir no lugar mais alto do seu estado de prazer. O amor concreto.
Clarice conheceu James.
Nome de príncipe, pensava ela.
O que era raro em uma cidade semi-povoada por tantos Paulos, Josés e Severinos.
Não era isso que sonhava para ela.
James tinha jeito de príncipe. Declicado. Rosto rosado. E seria incapaz de matar até uma barata.
(ponto negativo)
Mas todo mundo tem defeito.
E naquele momento, era o sonho da menina Clarice sendo realizado. Mas como cavalheiro respeitador, James sugeriu casar de branco.
Clarice discordou.
Não estava preparada para casar até conhecer o amor de perto.
Sugeriu uma viagem romântica, quem sabe um parque deserto, para assim concretizar o tão sonhado momento de princesa:
sua primeira vez.
James, com toda a sua delicadeza de macho, resolvou realizar o sonho da menina.
Preparou tudo.
Esquentou até a banheira.
Mas como assim?
Clarice, extasiada com a certeza de ser mulher, demorou para perceber que todos os seus sonhos estavam em um motel.
Exatamente. Beira de estrada.
Com apretechos de macho. Desejo carnal e quadros de atrizes da década de 60 beijando homens e cavalos.
Mas e clarice?
Onde estava o amor?
Ouviu james falar em seu ouvido: “ viu que lindo o amor de Sônia Lima por um cavalo?”
Olhou para si mesma no espelho do teto. A cama vermelha.
O lençol branco.
O outro espelho. Mais espelho.
Em todos eles, podia ver os seus sonhos de amor reduzidos a uma expressão de desespero.
James achava tudo aquilo romântico.
Antes de começar a despir o seu vestido – ironicamente branco- a menina suspirou:
Quero casar de branco.
James concordou.
E assim foram embora. Sem delicadeza. Sem amor.
E por favor, príncipes jamais. Eles lembram cavalos.
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