domingo, 26 de fevereiro de 2012

Um pequeno coração

Filho,

Falta pouco para deixarmos de ser um só. Isso poderia soar como uma carta de despedida, afinal, daqui a pouco você e eu não seremos um só coração, dividindo emoções que foram intensas.
Mas talvez, essa seja a única despedida que vem como motivo de alegria: vou poder abraçar você, esquentando com minhas próprias mãos. Vou poder apertar sua bochecha e beijar o seu pé.

Imagino que eles tenham tons de rosa. Assim como meu coração vai voltar a ser: rosinha, em um tom de criança, porque nesse dia, estarei nascendo de novo.

Estaremos nós dois nascendo para um mundo. Que espero, eu finalmente, seja colorido.
Faz alguns meses que não vejo cores. Que tudo parece cinza e você é meu único motivo, minha única força, minha única luz.

Por isso, descobriremos juntos esse mundo novo, repleto de doces e delicados sons, chocalhos, de vida e sorrisos.
Através de você, vou nascer de novo como mulher e pela primeira vez como mãe.
Uma mãe de verdade, apesar de tudo o que já me disseram, o quanto já me machucaram. Uma mãe com uma espadinha no coração, de tão forte que vai ser.

Filho, você, mais do que eu, sabe o quanto esses 9 meses foram difíceis. Intensos, dolorosos, profundos ao máximo volume. Vi morrer tanta coisa... Mas talvez seja necessário. É a morte que precede a mais preciosa da vida.

Te peço perdão por muita coisa. Coisas que só você sabe o quanto são irrelevantes. O quanto não passam de infundadas acusações, quando a gente, por amor é capaz de mover o mundo.

E eu movi o mundo para trazer você. Encarei desafios. Enfrentei medos. Convivi com a solidão. Hoje, estamos só nós dois, exatamente quando começamos. Lembra do que eu já conversava com você, quando ainda era apenas um coração?

Nossa cumplicidade comecou ali. E sabe o que é mais engraçado? Cuidei de ti, te dei amor. Você, hoje, é bem grandinho... Já eu... voltei a ser pequena.

Eu voltei a ser apenas um pequeno coração. Exatamente aquele que você era. As pessoas ( mas só aqueles que não sabem nada de profundidade e intensidade de carregar um filho) acham que bebês são frágeis. Mentira. Você é mais forte que eu, meu amor.
Porque te transformei em um guerreiro. Te dei toda a minha força.
E talvez, um dia eu reconheça que ser apenas um pequeno coração seja a melhor coisa do mundo.

Hoje, é você que me protege do mundo. Você que me embala para dormir depois de atitudes dolorosas de quem a gente tanto aprendeu a amar nesses meses. É o som do teu amor.
É você que carrega o meu coração, assim como sempre carreguei o seu. Muito antes de você existir.

Como falei: sou pequena. Pequena diante da dimensão de tudo isso. Pequena diante de um amor tão grande que chega a assustar. Que nos coloca contra a parede, dando a sensação que não vai existir amanhã.

Mas sabe de uma coisa: vai existir um amanhã. E ele está mais próximo do que nunca.

Não estamos sós. A esperança nos faz companhia e vai seguir com a gente até o momento de ouvir seu chorinho: o primeiro de muitos.

Meu coração ainda vai crescer. E sabe de alguma coisa? Não vou me despedir de você. Seremos sempre um só.

E já posso sentir: meu coração estará sempre fora do peito. Por você e para você.

Vamos conseguir pintar esse mundo.

Te amo, leãozinho. E seja bem-vindo. Estou esperando muito por você! Não precisa mais demorar. :)

beijo da mamãe do pequeno coração.