quinta-feira, 13 de junho de 2013

Quando foi que te esqueci?

Eu achava que nunca ia te esquecer. Até fazia planos para quando ficar velhinha imaginar você reclamando de tudo com seu jeito ranzinza. Era bem capaz de você ainda nem ter me perdoado. E o mais engraçado era que nessa mesma imaginação, eu já tinha 4 netos e nenhum tinha qualquer relação com você. Verdade. Eu casava de mentirinha. Não com você, porque foi-se o tempo dos amores platônicos, em que eu casei 4 ou 5 vezes com você, do jeito que dava pra imaginar. Estava falando da realidade esquisita de casar com uma pessoa que eu não conhecia tanto quanto você. Que de tão perfeita, aliás, parecia que eu não conhecia. Porque com você era diferente: sabia todos os defeitos. E que ilusão é essa de achar que te conhecia bem só porque sabia os seus defeitos?

Esquisita sensação. Mas mesmo assim eu gostava de sentir. Imaginava que podia ver você em vários lugares e rostos. Te via mas não tinha você. E a cada chuva ia te encontrar sentado em um café. Mas você estava do outro lado do mundo e nem doía mais tanto assim. Era só uma lembrança que martelava e que me fazia tão cética a ponto de achar que ninguém era igual a você.
Eu lembrava que você suava pelo pé, pelas mãos e eu achava isso engraçado. Quase um pato. Feio. Você nem era tão bonito assim, mas tinha um charme que só eu conhecia.
A graça era essa porque sou ciumenta. Só eu conhecia o que você tinha de mais bonito, mas ai a gente brigava e tudo voltava a ficar do mesmo jeito. Seus defeitos. O problema nunca foi eu, era você. Você conseguia me tirar do sério por pouco com a mesma intensidade que conseguia me fazer feliz por muito menos ainda.

Aí você já tinha ido embora fazia tempo. Até eu tinha ido embora e mesmo assim o seu lugar estava ali. Eu me imaginava amando você escondido pra sempre. Inventava uma briga só para te procurar e dizer o quanto você foi bobo de me perder. Eu estava perdida, porque era assim que me sentia sem você. A dor tinha conseguido me convencer a me acomodar. E que coisa estranha. Já vi quem se acomoda por amor. Mas pela dor?  Lembro que eu me sentia experiente no amor só porque não tinha te esquecido. Imaginava que as pessoas eram tolas em viver esse amor mais ou menos. Esse amor quatro horas da tarde. Eu, não. Eu era feliz porque tinha conhecido uma saudade tão forte quanto a dor de te ver indo embora.
Como eu podia me sentir feliz com tão pouco? Eu não via a hora de te ver depois de anos ainda surpreso com o mesmo sorriso que você gostava em mim. O sorriso triste de não ter você. Imaginava que poderiam passar anos, amores e mudanças e mesmo assim você ia enxergar em mim o que sempre enxergou. Você mesmo. Te encontrei por um acaso umas 4 vezes na vida e em todas elas, me apaixonei por você.
Eu achava mesmo que nunca ia te esquecer, mas não sei quando exatamente isso aconteceu.
Talvez eu tenha esquecido alguma parte da nossa história. Nem sou tão velha assim, nem casei de mentirinha, mas também não sinto mais saudade. A dor foi embora e com ela chegou a paz.
Em algum lugar talvez eu lembre do seu sorriso. Mas continuo achando que não sei nada sobre o amor. E  não quero que você me ensine porque dessa vez foi diferente. Você não vai se apaixonar por mim a vida toda.
Acho que você foi embora de verdade muito tempo depois de ter batido a porta. Mas foi.
E talvez eu não passe a vida te esquecendo somente porque parece que eu demorei uma vida para te esquecer. Mas esqueci.