sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Procura-se

Procura-se um mundo com mais praças, mais bancos e menos jornais.
Procura-se um mundo onde pessoas "lêem" albuns de figurinha no banco da praça.
Procura-se esse mundo, onde os seres de outro mundo são Ets de pelúcia.
Procura-se um mundo onde, pelo menos 3 vezes durante a vida, você pode voltar ao tempo.
Procura-se esse mundo onde nenhuma pessoa vai embora. E no dia que ela for, não se preocupe: amanhã ela vai estar exatamente no mesmo lugar onde você a deixou.
Nesse mundo, abraçar significa realmente estar perto.
Procura-se um mundo onde você não idealiza pessoas. Só o mundo.
Procura-se tristeza, porque você provavelmente não vai encontrar esse mundo.

Espelhos

Cansou de viver escondida. Cansou da vaidade e tomou uma decisão. Quebrar todos os espelhos da casa. A partir dali, começaram alguns anos de azar: ninguém mais olhou pra ela.

Lista

Ela só casa com uma condição. Fazer a lista de presentes no Polishop.

Não contém glúten.

Sábado. 17h. Chama-se por alguns, a hora do quase rush na padaria. Sim, parece que as pessoas estão enlouquecidas, correndo com ansiedade atrás do pão ou do leite mais quentinho. Um momento que, para quem está de fora, parece mais um leilão.
Mas aquele dia foi um pouco atípico. A moça com o olhar triste, que sempre deixava o seu cachorro do lado de fora – para ganhar a simpatia das pessoas e ela não precisar disso – estava solitária na estante dos pães de saquinho especiais. Já passava minutos ali, parada, só pensando na sua difícil escolha. Depois do canal de televisão, esse parecia ser o momento de mais dúvida para ela. Foi aí que um cara não muito simpático se aproximou. Ela já esperava algum tipo de elogio para seu cachorro. Claro, esse era o meio de comunicação mais eficaz quando ela tinha coragem de sair de casa. Mas não. Ele não queria exatamente isso. Ele pegou, educadamente, um saquinho de pão para ela. Foi quando ela tremeu e ouviu a voz mais bonita do mundo: Não contém glúten. A partir desse dia, não só a sua vida mudou. A dieta ficou, digamos, bem diferente. Ela nem sabia águas por que o tal glúten era tão importante para sua vida. Mas algumas coisas não se explicam, não é mesmo?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Metalinguagem

Sonhou que estava sonhando. Nesse sonho, ela, finalmente, conseguia dizer a ele tudo o que nunca teve coragem. Disse e ainda teve a chance de se arrepender. Afinal, se sonhou que estava sonhando, também sonhou que acordara. Que alívio sonhar que tinha acordado e não ter dito nada daquilo. Agora, era só torcer para o despertador não tocar.

Lista de presentes

Carlos Antônio, o amassador de vegetais fica comigo.
Todo seu. Mas não esqueça que o aquecedor é meu.
O quê? Jamais. Acho melhor a gente fazer uma lista para resolver isso.
Será que esses sites de lista de casamento já fazem lista de divórcio também, Carlos Antônio?
Digita aí...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Amarelinha

Amarelinha sempre lembrava o primeiro amor.Toda vez que ele conseguia vê-la, ficava dando voltas pelo céu. Aí, ela ia embora, e ele pensava: " será que fui bobo demais na frente dela?" Então se dava conta que estava pulando de um pé só. É, fui bobo.

Rostos

Fazia anos que ele não a via. Tanto que já enxergava o sorriso dela em outros rostos. Vários. O tempo passou de uma forma, que ele começou a se confundir. Ou até se enganar. Um dia, quando a viu,ela acabou passando despercebida. Seus sentimentos não tinham mudado. Mas ele não acreditou. Já confundiu tanto, que descartou qualquer possibilidade: esse só pode ser mais um rosto que eu inventei.

Desenhos

Ela sonhava com o dia em que seus pensamentos se transformariam em desenhos. Provavelmente, eles não seriam tão coloridos. Ela acreditava mais na delicadeza dos traços do que na força das cores. Pensar assim era simples. Até porque, quem precisa de muitas cores para desenhar corações?

Olimpíada

Adormeceu no sofá. Entre pensamentos confusos, não entendia se sonhava com astronautas, ou com apicultores. Foi aí que a TV, programada para desligar, apagou. Uma pena. Ele não ia saber como ia terminar aquela animada semifinal de esgrima na Olimpíada.

Jujuba

Para Ana Luíza, jujuba tinha gosto de primeiro amor. Não só pela sensação quase óbvia de ser doce. Era algo mais. Eram várias, coloridas, que passavam despercebidas. Mas como qualquer outro amor, ela também tinha uma jujuba preferida. Aquela que ela nunca esquecia. Sonhava que o primeiro beijo pudesse ter aquele gosto, dessa tal jujuba vermelha. Mas sem querer, ela comprou um pacote e deixou a única daquela cor cair no chão. Eis a sua primeira decepção.

Gaveta

Chamo a gaveta de limbo. É lá que coloco as coisas que não me fazem faltar, mas que também, não consigo jogar fora.


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Parecia uma criança. Toda vez que ela retornava às suas lembranças, ele arrumava um jeito de desenhar uma gaveta imaginária. Não exatamente no seu coração, era melhor que ficasse bem longe dele, mas exatamente naquele lugarzinho, bem perto da sua cama, mais precisamente do seu travesseiro. Afinal, era naquele momento, que todos os seus pensamentos reais se confrontavam. Não mais se escondiam nas horas extras forçadas para matar o tempo, nem na cerveja com os amigos para fingir que era feliz. Só o travesseiro conhecia aquela realidade. Não tanto fantástica quanto a sua gaveta imaginária.

Telefone

Batia o telefone com uma raiva imensa, como se pudesse descontar do outro lado. Depois de alguns meses e dois telefones quebrados, já precisando comprar um novo, ela se deu conta, que desse jeito, ainda estava pagando pelos erros dele.

Cabelo

Toda vez que terminava um namoro, ou ficava com o coração partido, pensava em uma nova cor de cabelo. Coisa de adolescente. O que é uma contradição, já que adolescente mesmo, ela era quando estava apaixonada.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Tylenol

Costumo medir o meu estresse pelas caixas de Tylenol que compro. Só compro muito por dois motivos, ou é porque ando com muita dor de cabeça, ou é porque não tenho cabeça pra nada: perdi.

Gaveta

Um dia ele disse que estava apaixonado por ela e, por isso, foi romântico como nunca havia sido. Ela pegou esse contrato e guardou na gaveta.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Casamento

Para um casamento dar certo, é melhor que, antes, você tenha uma cama de solteiro. Pelo menos, você vai achar que está ganhando.

Dicionário

Medo é quando, naquele momento, você quer um cobertor para se proteger.

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Distância é quando a gente não tem uma régua de tamanho suficiente para medir o caminho entre duas pessoas.

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Paixão é quando a mão treme, o coração bate mais forte e, por causa disso, você acha que não pode pensar.

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Morrer é quando a gente vai embora e esquece de se despedir de nós mesmos.

Nomes

Quando você tem raiva de uma pessoa, começa a detestar suas manias. Aí você se sente bem quando passa. Só que um dia se dá conta que detesta o nome dela.

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O que você acha de Bruno para nosso filho?
O nome do seu ex-namorado?
E Marcelo?
O quê? Aquele cara que me passou a perna?
Querido, nome é nome.
Então, vamos colocar Pedro Henrique Junior.
Para ele ser preguiçoso igual a você?

Certezas

Eu tenho certeza da morte, mas quase sempre, esqueço o ponto final de algumas frases

Sono

Quem tem insônia sabe muito bem o valor do tempo. É por isso que eu nunca conserto aquele relógio que fica no criado-mudo.

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Toda vez que desligo o despertador de manhã, acabo derrubando o porta-retrato do criado-mudo. Deve ser o tempo pra dizer que aquele momento já passou.

O dia em que o amor fugiu da paixão.

A ventania cessou. A mesa continuou desarrumada. A porta bateu. Ela se arrumou. Esperou por ele a noite inteira, para não dizer, uma vida.Colocou a sua melhor roupa de dormir. Desfez o seu cabelo com uma ousadia que, há muito, ele não sentia. Ele chegou cansado e beijou-a na testa.

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Sentiu um aperto no coração, um frio na barriga e um desejo intenso. Tomou um Prozac, acendeu um cigarro e ligou a televisão para não ouvir seus próprios pensamentos.

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Quem ama sempre está perdendo alguma coisa. Se não for a metade da cama, é a paixão que acabou ficando no meio do caminho.