quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Meu bem.

"Meu bem, já não precisa falar comigo dengosa assim... briga, para depois, ganhar mil carinhos de mim".
Sim, esse poderia ser o texto mais lindo de amor. E brega. Porque convenhamos, começar um texto com uma música de Erasmo Carlos ( de uma fita de Léo Jaime) não é lá da fineza mais romântica do mundo, né? Mas em se tratando de amor simples e de coração, pode até ser.

Porque pense bem. Gatinha Manhosa cantada em um pequeno café em Paris, multinstrumentada por um violino, seria sim a versão mais romântica do mundo. E charme maior teria se a gente encontrasse a mesma versão em uma pequena loja de vinil. Das antigas. ( e cantada em fracês, claro)

Mas o que vai mudar o rumo desse texto, que mais parece uma declaração de amor é dizer que esse amor aqui é de pai para filha. Ou agora, de filha para pai. Das lembranças que mais trago da vida é meu pai, cantando "gatinha manhosa" pra mim, lá pelos meus 4 anos. Embalando até dormir. Coisa fina é o amor. Parece que foi ontem que vi essa cena. Parece que foi ontem que também o vi me carregando - já pesada - e adormecida do sofá para cama. Às vezes eu até acordava, mas fingia dormir só por aqueles momentos. Só para sentir esse carinho. E hoje, vejo todo esse amor do meu pai para meu filho. E tudo parece tão diferente. Lógico que ele não cantaria "Gatinha Manhosa" Para Tiago. Mas o amor está ali, do mesmo jeito, na mesma fita, e no mesmo jeito de falar de amor. Tá no olhar. Nos olhos que brilham. E na calma que esteve presente desde o primeiro dia em que soube que seria avô. Não foi da melhor forma (perdão, pai), mas com toda a sua maturidade, talvez ele já soubesse o quanto essa história teria um final feliz.

Também foi ontem - quase ontem, apenas há alguns meses atrás - que ele me disse o quanto a vida não era fácil para ninguém. "não é um privilégio seu, filha". No fundo, eu sabia. Mas também foi ontem que ele disse que no meu lugar faria tudo do mesmo jeito. As mesmas escolhas, os mesmos caminhos. Porque ter filho é a melhor coisa do mundo. É ver um amor crescer a cada dia, sem medida, sem direção, de um tamanho que nem a gente acha que está preparado. E sempre estamos. E com toda a sua calma, meu pai me ensina o quanto é preciso ter coragem. O quanto é importante sonhar e nunca parar. E mais ainda: já parou para agradecer? Meu pai faz todos os problemas parecerem menores. Parece que com essa mania de dormir tão pouco, ele já sabe o que vai acontecer amanhã: tudo estará resolvido. Ou você não tem fé?

Sim, também foi ele que me ensinou a ter fé. A ter calma ( essa parte ainda não aprendi) e acima de tudo a tratar todo mundo, todos os dias com muito amor e carinho. Meu pai me ensinou a ter um coração grande. A ser determinada. E muito, mas muito, a ser mãe. Disso, não posso reclamar. Também não esqueço que ao dar a notícia de tiago para minha mãe, a primeira reação dela foi um sorriso. Mesmo em meio a tempestade. Tenho sorte.

E falando em tempestade, esse mesmo pai, passou por várias delas. E sempre aprendendo, sempre crescendo na fé, sempre forte. Falando assim, parece até um herói. Mas não. É o mesmo pai que cantava Gatinha Manhosa e me carregava para dormir. (com certeza, o super homem não escutaria esse tipo de música).

Ainda hoje ele me carrega. De um outro jeito, claro. Mas sempre de uma forma doce e sempre cheio de amor. Ele diz que no meu lugar não faria nada de diferente.

Claro que não. Eu aprendi com ele. E espero que meu filho também possa aprender.
Primeira lição: amar. Segunda: ter fé. Terceira: um abraço todo dia. Essse é o caminho que espero de Tiago. Do sofá pra cama, da cama pro sofá. ( aposto que ele também finge que já dormiu só para se sentir protegido).


Obrigada, pai, por tudo. O mar pode ser calmo. E sim, a música pode ser brega. Afinal, estamos falando de amor. :)