quinta-feira, 26 de maio de 2011

longe

A saudade não tem juízo.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Viva o vazio

Um copo vazio nunca está totalmente vazio. Ele está cheio de ar. O ar que não quer sair do pulmão. Que sufoca por dentro. Que ensaia uma tentativa de liberdade. Mas na verdade, ele só vai e volta.
É como um balão de aniversário, mas sem festa.
Alguns convidados chegaram, mas encontraram o salão vazio. Podia ser pior.
Podia ser o aniversariante chegando e encontrando ninguém para sua festa.
Sem festa, sem presente.
Só o ar.
Ar rarefeito.
É esse ar que provoca um efeito tão grande na sua vida e nenhum efeito no mundo.
Não mexe nem uma folhinha de uma árvore.
É verão e as árvores continuam secas: ta aí um bom cartão postal para a desesperança.
E adivinha quem vai receber? Ninguém.
Porque nesse lugar, nessa cidade sem nome, cidade de ar preso. Cidade sem efeito. Não existe correio.
Não existe janela.
Existe uma fresta. Deveria ser o coração.
Esse, sim, poderia dar algum alívio. Podia ser leve.
Mas leve, como? Nesse ar denso?
Olha ele aí flutuando. Flutuando como se estivesse imerso em algum copo d’água.
Mas não esqueça: o copo está vazio.
Está cheio de vento. Vento frio que acaba de entrar por sua janela.
Pela fresta. Pelo coração.
Ainda bem que ele bate.
E se ele bater mais forte, você vai flutuar.
Prazer, felicidade.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Abraço

Abraço é como um laço apertado.
E por isso, parece um presente.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

São Paulo

São paulo é frio na alma e cócegas na barriga. É a beleza que se descobre aos poucos. Beleza por beleza é paisagem. E digamos que se São Paulo fosse um cartão postal, seriam as letras ensaiadas que você escreveria para mandar para alguém. Ensaiadas, porque imersos no computador em solitárias noites de frio, ninguém sabe mais escrever no papel.

Incrível, mas em São Paulo dá para escrever mais no papel. Em São Paulo, você descobre. Aprende, inclusive a se descobrir sozinho. Algumas vezes, não mais se reconhece. Onde foi que ficou aquela mania de reclamar dos mínimos defeitos das pessoas? Você dá valor aos poucos instantes que passa com elas. E a mania de achar que o mundo para enquanto você conserta um coração que partiu?

Não dá. A cidade vai girando. E você vai junto. Leva uma porrada e sai andando com ela. E o pior: sai andando sem saber o que vai acontecer. Tentativa-erro. As vezes até arrisca um cachecol de lã em um sol quente. E nem sempre você acerta.
O sol também pode ser frio.

E na pressa, você tem medo de esbarrar em si mesmo. Medo de lembrar do passado, das coisas que ficaram. Medo que elas voltem a assombrar você, justo quando você está sozinho. Mas calma. Para por ai.

Dá para descobrir beleza onde não tem. Dá para se esconder quando quer e até quando não quer. Dá para passar despercebido quando quer chamar atenção.
Dá para sentir amor platônico mesmo quando o fogo queima. E queima.


Dá para dividir solidão com outra pessoa. Talvez seja um dos únicos lugares do mapa para fazer isso. Os melhores.
E solidão dividida por dois pode virar amor. Amor que se inventa para preencher madrugadas sem sono.

Ninguém fala em São Paulo. Ninguem tem tempo. Você é superficial com a maioria das pessoas e mais intenso com você.

Em São Paulo, descobrem-se sentimentos. Descobre-se o outro.
Em São Paulo, o tempo também pode parar como em uma praia no meio do nada.
A graça de São Paulo é fazer praia dentro de você, quando lá fora é cinza.

Um dia você descobre: o cinza por aqui pode ser só uma cortina.


( Setembro de 2010, em São Paulo)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Desesperança.

ou

Registro de uma manhã fria.




São 11:00h. E o mundo ainda não amanheceu.
Como assim? Ninguém explicaria isso.
Mas ainda é noite. E o que é pior: noite de Domingo.
Essas frentes frias sempre trazem surpresas. Frio na alma e coração nublado são as mais visíveis dela.
Há esperança pro futuro? Talvez.
O perigo é só o coração se acostumar com a fofura das nuvens. Não é exagero.
Mas tem tristeza que tem preguiça de virar alegria.
Sabe aquele dia que amanhece friozinho, e por isso, te dá o direito de tomar um balde de chocolate quente?
É esse o atrativo da tristeza. Ela chega e não vem sozinha. Traz cobertor, carinho, escuro, e um monte de jujuba colorida que tenta te persuadir a não sair do seu cantinho.
O nome desse cantinho é bolha. De vez em quando, vem algum incoveniente querendo estourar a bolha, brincando logo de quê? Bolhinha de sabão.
Ainda bem que essa super bolha tem 5 camadas de proteção e nenhuma delas se chama sorriso.

E a desesperança continua insistindo que hoje não amanhece de jeito nenhum.
Não é hoje que vou ver um céu azul. Não é hoje que o coração vai ficar leve.
E pra quê coração leve? Vai voar?
Até poderia. Mas só se fosse pra um lugar longe. O que acha de um lugar onde já amanheceu?
Tem até passarinho cantando e um coracão com poucas nuvens.
Talvez. Mas acho que hoje eu levaria chuva pra esse lugar.
E lá vem a tristeza de novo. Dessa vez ela trouxe um guarda-chuva. Colorido que nem jujuba.


Cheio de desesperança.