sexta-feira, 13 de maio de 2011

São Paulo

São paulo é frio na alma e cócegas na barriga. É a beleza que se descobre aos poucos. Beleza por beleza é paisagem. E digamos que se São Paulo fosse um cartão postal, seriam as letras ensaiadas que você escreveria para mandar para alguém. Ensaiadas, porque imersos no computador em solitárias noites de frio, ninguém sabe mais escrever no papel.

Incrível, mas em São Paulo dá para escrever mais no papel. Em São Paulo, você descobre. Aprende, inclusive a se descobrir sozinho. Algumas vezes, não mais se reconhece. Onde foi que ficou aquela mania de reclamar dos mínimos defeitos das pessoas? Você dá valor aos poucos instantes que passa com elas. E a mania de achar que o mundo para enquanto você conserta um coração que partiu?

Não dá. A cidade vai girando. E você vai junto. Leva uma porrada e sai andando com ela. E o pior: sai andando sem saber o que vai acontecer. Tentativa-erro. As vezes até arrisca um cachecol de lã em um sol quente. E nem sempre você acerta.
O sol também pode ser frio.

E na pressa, você tem medo de esbarrar em si mesmo. Medo de lembrar do passado, das coisas que ficaram. Medo que elas voltem a assombrar você, justo quando você está sozinho. Mas calma. Para por ai.

Dá para descobrir beleza onde não tem. Dá para se esconder quando quer e até quando não quer. Dá para passar despercebido quando quer chamar atenção.
Dá para sentir amor platônico mesmo quando o fogo queima. E queima.


Dá para dividir solidão com outra pessoa. Talvez seja um dos únicos lugares do mapa para fazer isso. Os melhores.
E solidão dividida por dois pode virar amor. Amor que se inventa para preencher madrugadas sem sono.

Ninguém fala em São Paulo. Ninguem tem tempo. Você é superficial com a maioria das pessoas e mais intenso com você.

Em São Paulo, descobrem-se sentimentos. Descobre-se o outro.
Em São Paulo, o tempo também pode parar como em uma praia no meio do nada.
A graça de São Paulo é fazer praia dentro de você, quando lá fora é cinza.

Um dia você descobre: o cinza por aqui pode ser só uma cortina.


( Setembro de 2010, em São Paulo)

2 comentários:

Junior disse...

Adorável seu blog. Estou devorando todos os posts. =D Você escreve maravilhosamente bem.

Dodoo disse...

Sou eterno fã dos seus posts!