quarta-feira, 25 de maio de 2011

Viva o vazio

Um copo vazio nunca está totalmente vazio. Ele está cheio de ar. O ar que não quer sair do pulmão. Que sufoca por dentro. Que ensaia uma tentativa de liberdade. Mas na verdade, ele só vai e volta.
É como um balão de aniversário, mas sem festa.
Alguns convidados chegaram, mas encontraram o salão vazio. Podia ser pior.
Podia ser o aniversariante chegando e encontrando ninguém para sua festa.
Sem festa, sem presente.
Só o ar.
Ar rarefeito.
É esse ar que provoca um efeito tão grande na sua vida e nenhum efeito no mundo.
Não mexe nem uma folhinha de uma árvore.
É verão e as árvores continuam secas: ta aí um bom cartão postal para a desesperança.
E adivinha quem vai receber? Ninguém.
Porque nesse lugar, nessa cidade sem nome, cidade de ar preso. Cidade sem efeito. Não existe correio.
Não existe janela.
Existe uma fresta. Deveria ser o coração.
Esse, sim, poderia dar algum alívio. Podia ser leve.
Mas leve, como? Nesse ar denso?
Olha ele aí flutuando. Flutuando como se estivesse imerso em algum copo d’água.
Mas não esqueça: o copo está vazio.
Está cheio de vento. Vento frio que acaba de entrar por sua janela.
Pela fresta. Pelo coração.
Ainda bem que ele bate.
E se ele bater mais forte, você vai flutuar.
Prazer, felicidade.

Um comentário:

Gustavo disse...

Excelente Má!!!
Você tá cada vez melhor!!!