quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Olhos quadrados

09/01/09

(perdido no e-mail. Alterado hoje)



De todos os curtos prazeres da vida daquele menina de olhos quadrados, o melhor deles era jogar granulado de brigadeiro no chão.
Era interessante ver como o seu dia podia mudar quando ela ainda acompanhava com seu olhar aquelas bolinhas, que sem brigadeiro, não pareciam ter significado algum.
É. Talvez alguém confundisse com um resto de purpurina de festa de criança, com partes de brinquedos mastigados, ou até com fragmentos de algum lápis perdido por aí.
Só a menina dos olhos quadrados poderia perceber um granulado colorido no chão.
E que beleza aquilo tinha no seu dia.

E isso só poderia ser comparado ao sorriso em um dia triste.

Porque desde que conheceu um pouco da tristeza, o que não era muito comum na sua idade, a menina dos olhos quadrados descobriu os pequenos instantes de felicidade.

Descobriu que o "quase" fazia sentido na sua vida. E que um sorriso de lado é mais latente do que sem graça. E sem graça ela ficava, quando sentia que fazia alguém feliz.

Ela viu que podia ser feliz com pouco. Janelas, por exemplo. Para ela, janelas tinham um significado especial. De certa forma, elas formavam uma espécie de moldura para sua felicidade.

Porque a menina dos olhos quadrados via o mundo assim, através da sua própria janela. Era perigoso ter os olhos com essas formas. Era como se expor ao mundo de uma forma meio esquisita. Aquela mesma de jogar o granulado no chão, disperso, sem destino, porém com alguma sina.

Já deu para notar que a menina dos olhos quadrados adorava janelas. Sempre que estava indecisa, ficava bem pertinho delas, e quando conseguia descobrir se estava mais para o lado de fora, ou um pouco mais para dentro, ela finalmente, podia fazer o que o seu coração mandasse.

Só que nem sempre fazer o que o coração manda é fazer a coisa certa. Mas ao mesmo tempo, ela não podia mandar no coração. Oha que coisa mais esquisita: manda, não manda. não manda, manda. Como pode?


ah. E dentro dos curtos prazeres do sorriso-moldura, ela descobriu que fechando os olhos, podia perder a forma das estrelas. Assim, como as luzes dos postes. Aliás, como duas coisas tão diferentes podiam ser tão parecidas? ( isso também funciona com pessoas)

Postes e estrelas. Pessoas diferentes, porém iguais: Juntos, eram como sílbas sem sentido formando palavras bonitas.
Por falar nisso, como o granulado podia ser tão bonitinho, com um nome tão infeliz?
Foi aí que a menina descobriu que o brigadeiro sem rosto de granulado não tinha tanta graça.

Bom mesmo era comer na janela, enquanto as bolinhas coloridas caissem lá embaixo, bem longe, onde ela não pudesse ver.

O céu poderia virar uma ávore de natal. E toda vez que ela o acendesse com o granulado coloridinho, essa menina podia ser feliz.

Mas é sorriso de quem já consegue se ver do outro lado da janela.

Já fora dos seus olhos. E ainda mais perto de outro céu.

Bem perto de outra alma.

Na verdade, os seus olhos eram uma janelinha com vista para outro céu.

(o teu céu...)

Um comentário:

Katia Barga disse...

Que graca, tao delicado, adorei.
Bjs
Katia