sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um conto sobre o desamor

Clarice Maria Reis era romântica.


Bem romântica.


E como todo menina que acordava vendo o passarinho azul mesmo quando dorme pouco , ela sonhava com o momento máximo que descobriria o amor:


Sua primeira vez.



Ainda na flor da sua idade de menina-flor, acreditava ser esse o momento mais romântico do mundo.


Mais ainda do que o casamento.


Nem precisava esperar por ele para descobrir o amor.


Clarice casaria de rosa sem problemas e sem falatório de cidade pequena.


Rosa era sua cor preferida e ponto final.



Então, estava chegando o momento.


Não a hora de subir ao altar. Mas o momento de subir no lugar mais alto do seu estado de prazer. O amor concreto.


Clarice conheceu James.


Nome de príncipe, pensava ela.


O que era raro em uma cidade semi-povoada por tantos Paulos, Josés e Severinos.


Não era isso que sonhava para ela.



James tinha jeito de príncipe. Declicado. Rosto rosado. E seria incapaz de matar até uma barata.



(ponto negativo)



Mas todo mundo tem defeito.


E naquele momento, era o sonho da menina Clarice sendo realizado. Mas como cavalheiro respeitador, James sugeriu casar de branco.


Clarice discordou.


Não estava preparada para casar até conhecer o amor de perto.


Sugeriu uma viagem romântica, quem sabe um parque deserto, para assim concretizar o tão sonhado momento de princesa:



sua primeira vez.



James, com toda a sua delicadeza de macho, resolvou realizar o sonho da menina.



Preparou tudo.


Esquentou até a banheira.


Mas como assim?


Clarice, extasiada com a certeza de ser mulher, demorou para perceber que todos os seus sonhos estavam em um motel.


Exatamente. Beira de estrada.



Com apretechos de macho. Desejo carnal e quadros de atrizes da década de 60 beijando homens e cavalos.


Mas e clarice?


Onde estava o amor?


Ouviu james falar em seu ouvido: “ viu que lindo o amor de Sônia Lima por um cavalo?”



Olhou para si mesma no espelho do teto. A cama vermelha.


O lençol branco.


O outro espelho. Mais espelho.


Em todos eles, podia ver os seus sonhos de amor reduzidos a uma expressão de desespero.


James achava tudo aquilo romântico.


Antes de começar a despir o seu vestido – ironicamente branco- a menina suspirou:


Quero casar de branco.





James concordou.


E assim foram embora. Sem delicadeza. Sem amor.


E por favor, príncipes jamais. Eles lembram cavalos.

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