terça-feira, 5 de maio de 2015

Valsinha


Não sabia dançar. E esse foi o grande motivo para dizer não quando aquele menino do sorriso estranho chamou ela para dançar.

O que era para ser um simples não, virou uma desilusão para a menina das pernas ocas. Nasceu com esse problema. Podia até jogar futebol - e gostava, era campeã - mas dançar, jamais. Ela até tentava batucar os pés, copiar melodias em pensamento. Podia ser um sucesso cantando, mas dançar, não era tão forte. Por que logo ela? E por que logo ele? Não via hora de ver de perto aquele menino. E logo naquele momento teve que dizer não. O menino era paciente, mas também era insistente. Mostrou que podia conduzi-la. Não seria nenhum sacrifício. A menina não tinha mais saído da sua cabeça desde que tinham se esbarrado bem embaixo de uma árvore de folhas amarelas. Estranho ou não, ela lia o um livro de ponta a cabeça quando ele tropeçou. Dali, tudo mudou. Passou a imaginar a primeira dança. Ensaiou em casa como podia se portar como cavalheiro mesmo sendo tão desastrado. Tentou ser delicado e chamar a menina para dançar. Tudo inventado. O menino que nem sabia jogar futebol, era bom de inventar pretexto. A mãe nunca entendeu a diferença entre mentira e a tal fantasia do menino.
Imaginava muito e fazia pouco. Mas dali, naquele momento, tudo parou. Aquele simples não fez ele voltar até a árvore de folhas amarelas. Lembrou do quanto tinha ensaiado para chegar até ali. Foi embora 3 vezes em pensamento, até que desistiu. Chegou bem perto da menina, que podia ver o reflexo de tudo nos olhos deles. Da festa, do coração dele e da alma dela. Ela teve medo, mas esboçou um sorriso estranho, quase desenhado no rosto. E o que é melhor: desenhado por ele. Mas não hesitou. Aceitou o beijo e sentiu que a alma podia dançar. Não era ele que conduzia. Era uma dança esquisita, meio sem ritmo. Ela só sabia que era bom. E logo ela, que não não dançar, não queria que a música acabasse.

E quanto ao menino, bom, ele disse que era insistente. Dessa vez, não tinha tropeçado. Mas também não fez nenhum esforço para esquecer a menina.

E muito menos aquela dança. 

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